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Livro War by Other Means: Geoeconomics and Statecraft
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Livro War by Other Means: Geoeconomics and Statecraft

A geoeconomia e a política estatal como uma guerra por outros meios

No mundo contemporâneo, o poder econômico se tornou uma ferramenta tão poderosa quanto a força militar para moldar o cenário internacional. Essa é a tese central do livro War by Other Means: Geoeconomics and Statecraft, de Robert D. Blackwill e Jennifer M. Harris.

Neste artigo, vamos explorar os principais argumentos da obra e entender como a geoeconomia vem redefinindo a forma como os países exercem influência e travam disputas estratégicas.

O Que é Geoeconomia?

Geoeconomia refere-se ao uso de instrumentos econômicos para alcançar objetivos geopolíticos. Não se trata apenas de comércio ou investimentos, mas de uma abordagem estratégica que inclui:

  • Políticas comerciais

  • Sanções econômicas

  • Guerra cibernética

  • Controle de energia e recursos naturais

Segundo os autores, essa mudança de paradigma está remodelando o sistema internacional e ampliando o arsenal de ferramentas disponíveis para os Estados.

Como a Geoeconomia Está Transformando o Mundo?

O livro identifica diversos fatores que tornam a geoeconomia uma força determinante nas relações internacionais:

1. Expansão das Ferramentas de Influência

Países como China e Rússia utilizam sua força econômica para influenciar outras nações, desafiando potências tradicionais como os Estados Unidos e a União Europeia.

Por exemplo, a Rússia impôs restrições comerciais à Ucrânia e à Geórgia para evitar que esses países estreitassem laços com a União Europeia. Esse tipo de pressão econômica substitui, em muitos casos, o uso direto da força militar.

2. Vantagem dos Estados Autoritários

Os regimes autoritários possuem maior liberdade para utilizar ferramentas econômicas como armas geopolíticas. Enquanto democracias precisam prestar contas a seus cidadãos, países como China e Rússia conseguem:

  • Direcionar investimentos estratégicos para obter vantagens políticas

  • Usar empresas estatais e fundos soberanos para fortalecer sua influência global

  • Oferecer acordos comerciais lucrativos sem a necessidade de transparência

A obra destaca o exemplo da China na África, onde o país investe bilhões de dólares não apenas para obter recursos, mas também para moldar o cenário político local e consolidar sua influência.

3. A Geoeconomia na Diplomacia e nos Mercados

A influência econômica está cada vez mais entrelaçada com a diplomacia. O caso da compra de aeronaves da Embraer pelo governo chinês, citada no livro, mostra como as decisões de mercado podem ser motivadas por interesses diplomáticos, e não apenas financeiros.

Além disso, países estão dispostos a recorrer a táticas não convencionais para atingir seus objetivos, incluindo:

  • Falsas acusações fiscais para pressionar empresas estrangeiras

  • Exigência de joint ventures forçadas para acessar mercados estratégicos

Esse tipo de manipulação econômica altera profundamente as regras do jogo no comércio internacional.

4. Mudanças na Natureza dos Acordos Internacionais

Muitos acordos econômicos são fechados sem transparência, principalmente entre líderes autoritários. Isso facilita negociações que beneficiam os governos no poder, mesmo que sejam economicamente prejudiciais para a população.

A China e a Rússia frequentemente apoiam regimes autoritários em países como Belarus, Zimbábue e Sudão, consolidando suas esferas de influência. Essa prática, segundo os autores, não se limita a interesses econômicos, mas também fortalece uma afinidade ideológica entre Estados autocráticos.

Quando a Economia se Torna uma Arma de Guerra

A principal conclusão do livro é que as tensões econômicas e de segurança estão cada vez mais interligadas.

Os autores argumentam que:

  • Disputas comerciais podem se transformar em conflitos de segurança

  • Crises geopolíticas podem gerar impactos econômicos devastadores

O caso do Leste Asiático ilustra esse ponto. O crescente poder econômico da China anda de mãos dadas com suas políticas de segurança agressivas, tornando a região um dos principais pontos de tensão global.

Diante desse cenário, o livro alerta que os Estados Unidos precisam se adaptar, reconhecendo a geoeconomia como um componente fundamental da sua estratégia de segurança nacional.

Conclusão: O Futuro da Geoeconomia

A leitura de War by Other Means revela um novo paradigma nas relações internacionais, onde o poder econômico se tornou uma das principais armas da geopolítica moderna.

Compreender a geoeconomia não é apenas uma questão acadêmica, mas uma necessidade para qualquer um que queira entender o mundo atual. Afinal, as decisões políticas e econômicas dos países não ocorrem isoladamente – elas são peças de um tabuleiro global onde dinheiro, poder e influência se entrelaçam de maneiras cada vez mais complexas.

Que estratégias as democracias podem adotar para lidar com esse novo cenário? O equilíbrio entre transparência e influência geoeconômica será o grande desafio das próximas décadas.

Fique ligado no Zoom Global para mais análises sobre o mundo sob diferentes ângulos. Até a próxima!

Referência

BLACKWILL, Robert D.; HARRIS, Jennifer M. War by other means: Geoeconomics and statecraft. Harvard University Press, 2016.

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